O juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava-Jato em Curitiba, aceitou nesta quinta-feira assumir o Ministério da Justiça no governo de Jair Bolsonaro. O magistrado se reuniu por quase duas horas com o presidente eleito em um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Com a decisão, Moro vai se afastar imediatamente dos processos relacionados ao escândalo do corrupção na Petrobras. A juíza substituta Gabriela Hardt, que na Lava-Jato determinou a prisão do ex-ministro José Dirceu, assume temporariamente os casos.
“Fui convidado pelo Sr. Presidente eleito para ser nomeado Ministro da Justiça e da Segurança Pública na próxima gestão. Apos reunião pessoal na qual foram discutidas politicas para a pasta, aceitei o honrado convite. Fiz com certo pesar pois terei que abandonar 22 anos de magistratura. No entanto, a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito a Constituição, a lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão. Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocessos por um bem maior. A Operação Lava-Jato seguirá em Curitiba com os valorosos juízes locais. De todo modo, para evitar controvérsias desnecessárias, devo desde logo afastar-me de novas audiências. Na próxima semana, concederei entrevista coletiva com maiores detalhes”, disse o juiz em nota.
Nos últimos dias, Moro ouviu ponderações sobre os prós e contras de assumir um cargo executivo. Além de ter de deixar a magistratura – o que deverá ser concluído nos próximos meses – o juiz terá de lidar com o discurso de petistas de que suas sentenças no petrolão – que até o momento foram responsáveis por 215 condenações contra 140 pessoas – tiveram viés político.
A narrativa do PT tende a ser potencializada com a proximidade da conclusão do processo em que o ex-presidente Lula é acusado de ter recebido um terreno e um apartamento como propina da empreiteira Odebrecht. Dentro de duas semanas, o ex-presidente deveria ficar cara a cara com o juiz durante depoimento em que Lula é acusado de ter sido beneficiado pelas empreiteiras OAS e Odebrecht com reformas em um sítio em Atibaia. Com a decisão de Moro de se tornar ministro, o magistrado não vai mais tomar o depoimento do petista. Na noite desta quarta-feira, a defesa de Lula questionou mais uma vez a isenção do magistrado ao julgar o petista e pela primeira vez usou como argumento o fato de o juiz ter se aproximado do presidente eleito Jair Bolsonaro, o mesmo que havia afirmado, ao longo da campanha, que pretendia “fuzilar a petralhada”.
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